A delegada Aline Lopes, que precisou atirar contra um homem suspeito de estuprar a própria filha, relembrou casos marcantes de sua carreira. Aline contou que decidiu se tornar policial após o assassinato de seu pai, quando ela tinha apenas 8 anos. Um dos casos que chocou Aline foi o de um padrasto que engravidou a enteada de 12 anos em Anápolis, a 55 km de Goiânia.
“Ele abusava sexualmente dela desde os oito anos. Ela chegou a relatar para a mãe, que não acreditou. Quando fomos cumprir a prisão do pai e da mãe, e visualizamos a vítima, cuidando do bebê de poucos dias, foi muito forte perceber como os efeitos da violência reverberam na vida de todos”, relembrou a delegada.
Aline é titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Anápolis, ingressou na Polícia Civil de Goiás (PC-GO) em 2014 como escrivã e atua como delegada desde 2019, após ser aprovada em concurso público. Sobre o caso do estupro da menina de 12 anos, a delegada explicou que a vítima chegou a mudar a versão por pena da mãe, porque o padrasto mantinha a casa.
“A menina teve a criança, já que a gravidez só foi descoberta aos oito meses. Ver a família do investigado acusar a vítima, como se ela tivesse culpa da violência que sofreu, ainda me choca muito”, descreveu Aline.
Outro caso marcante para a delegada foi a prisão de um acusado de estupro em Corumbá de Goiás, na delegacia em que ela também autuou. Aline Lopes explicou que duas vítimas denunciaram o autor em um intervalo pequeno de tempo.
“Quando a gente aprofundou as investigações e divulgou o caso, nós descobrimos que o homem fazia vítimas pela cidade há mais de 30 anos, numa cidade pequena como Corumbá. Todo mundo sabia, mas ninguém tomava providência”, contou.
Após a investigação, o homem foi preso. Segundo Aline, diversos casos vieram à tona. “A gente deu o fim a uma série de abusos que duravam mais de 30 anos” finalizou Aline.
Atuação em casos de abuso
A delegada disse que atuar à frente da DPCA é o maior e mais gratificante desafio de sua carreira. “Poder, de alguma forma, impedir que violências, físicas, sexuais ou psicológicas, se perpetuem, romper esses ciclos, e propiciar um recomeço às essas vítimas é minha maior satisfação”, explicou.
A delegada afirmou que muitos casos de abusos não chegam a ser denunciados, as vítimas são desacreditadas e têm medo de denunciar.
“O abusador fica por anos fazendo outras vítimas. Então, quando a gente consegue descobrir, provar, prender e retirar esse abusador da sociedade, é o mínimo de Justiça que se consegue fazer”, finalizou.
Morte do pai
A delegada Aline Lopes revelou que a morte de seu pai teve um impacto profundo em sua decisão de seguir a carreira policial. "Isso impactou minha escolha por um curso e uma profissão que me permitissem atuar em defesa de pessoas que sofreram o que eu e minha família sofremos”, contou Aline.
Em entrevista, Aline explicou que não se recorda de muitos detalhes sobre o assassinato do pai, mas contou que o crime envolveu três homens: um mandante, um executor e outro que distraiu seu pai. Ela mencionou ainda que um dos criminosos acabou matando outro envolvido, o que resultou na prisão de apenas dois dos autores.
Casada e mãe de três filhos, Aline nasceu em Anápolis, a 55 km de Goiânia. Hoje, aos 40 anos, ela relembra as dificuldades enfrentadas até conquistar o tão almejado cargo.
“Vim de uma família muito humilde, estudei em escola pública, depois fui bolsista em colégio particular e na faculdade, e foi com muita dificuldade que consegui alcançar o cargo de delegada”, relembrou.
G1 Goiás